Dia 29 de maio comemora-se o Dia do Estatístico. Panorama da profissão e tendências são discutidas pelo Sistema CONFE/CONRE

 

Eles estão em todas as áreas. Cálculos de probabilidades, previsões, interpretação de dados. A rotina de um estatístico é cheia de responsabilidades. O trabalho desse profissional auxilia na tomada de decisões de governos e empresas. Esportes, marketing, saúde e mercado financeiro são alguns exemplos.

Estatísticos transformam dados brutos em informações que servirão para reduzir custos, minimizar riscos ou otimizar processos. Por essa razão, é crescente a procura por profissionais que saibam obter, organizar, analisar e interpretar dados num mundo marcado pela complexidade. Isso significa emprego garantido, com excelentes possibilidades de crescimento profissional e bons salários. E, segundo Edmilson Antonio Pereira Junior, Presidente do CONRE-6, com maior visibilidade desde o início da pandemia de COVID-19.

“A ciência Estatística tem sido amplamente utilizada e cada vez mais reconhecida, inclusive pelo público de forma geral. Nesse lamentável período de pandemia da COVID-19, o acompanhamento dos números e previsões da doença se tornou rotina. Agora, termos como média móvel, estabilidade do número de casos, achatamento da curva, entre outros, passaram a ser conhecidos por todos”, ressalta.

No entanto, para surfar nesta onda é preciso conhecimento de tecnologia, visão de mercado e negócio, saber trabalhar em equipe.

“O advento das novas tecnologias, em especial na área da Informática, trouxe uma transformação no conjunto de conhecimentos que um estatístico deve possuir e conhecer. Hoje, ele é obrigado a dominar estas técnicas e saber utilizá-las juntamente com os assuntos tradicionais de sua profissão. Além disto o próprio crescimento da Estatística com o surgimento de novas técnicas e métodos, exige um aperfeiçoamento constante desse profissional. Em suma o Estatístico tem, forçosamente que ser um cientista”, revela o Professor Maurício Gama, Presidente do Conselho Federal de Estatística – CONFE.

Para saber como anda esse mercado em todas as regiões do Brasil, reunimos o presidente do CONFE e os presidentes dos CONREs para falarem sobre o assunto.

 

DESAFIOS PELO BRASIL

Conselho Federal de Estatística – CONFE / Presidente Maurício Gama

“O mercado de trabalho tem sido muito bom para os Estatísticos. Há o que podemos chamar de pleno emprego para esses profissionais que estão, em sua maioria, no início ou no meio de sua vida profissional. No entanto, o foco na carreira profissional resulta em pouco tempo e motivação para se dedicar às atividades de um Conselho Profissional. Este fato se reflete de maneira intensa na dificuldade de compor os Conselhos e consequentemente na sua atuação. Este fenômeno é observado nos Conselhos regionais e no Conselho Federal”.

 

CONRE-1 (Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins) Presidente Maircon Batista Ribeiro

A grande comemoração do dia do estatístico é a certeza de que é a profissão mais promissora e aderente ao mercado de trabalho da atualidade, pois não há decisão sem estruturação da informação e transformação em conhecimento. Mas quando falamos de desafios, hoje, o principal é o sombreamento com outras profissões, pois o mercado percebeu que estatística é a profissão do futuro e todos querem aplicá-la em suas respectivas áreas. O problema disso, às vezes, é a falta de responsabilidade no seu uso, utilizando-a de forma indiscriminada e sem critérios. O CONRE-1, hoje, quer mostrar a importância de se ter um conselho, trabalhando nas vantagens e no fortalecimento da profissão.

 

CONRE-2 (Rio de Janeiro) / Presidente Elisabete Borges Gonçalves

“A visibilidade da profissão melhorou um pouco, mas ainda é pequena. A classe estatística não tem grande desempenho político; a invasão de outras profissões na Estatística continua grande e muito disseminada, até pelos softwares atualmente disponíveis e gratuitos. Ainda, o ensino da Estatística continua sendo muito realizado por não Estatísticos, que propiciam um aprendizado deficiente e criam rejeição da matéria, além do uso indevido de métodos, softwares e outros desvios.

Outros desafios são conseguir trabalhar numa área que envolva os conhecimentos adquiridos, bem como o surgimento de novas profissões, caso de cientista de dados, que poderão, em algum momento, fazer frente ao estatístico.

 

CONRE-3 (São Paulo) / Presidente Doris Satie Fontes

O CONRE-3 fiscaliza somente o estado de São Paulo, cujo mercado é imenso e sofrendo com a falta de estatísticos. Nossa região possui sete universidades, mas apresenta o menor índice de “evasão” (57%). Embora não seja um índice ruim se comparado ao do país (77%), penso que devemos estudar os motivos de tantos alunos desistirem do nosso curso. Potencialmente, desperdiçamos 190 vagas, ou seja, do total de 332 vagas disponíveis no vestibular de 2020, apenas 142 se formaram. Por que desistiram? Medo de desemprego? Deficiência na formação básica de matemática? Estranhando diante de um ambiente mais autônomo? Insegurança pessoal? Falta de apoio acadêmico? Dificuldades financeiras?

Sejam quais forem os motivos, acredito que há como minimizá-los e ajudar os alunos a permanecerem no curso. Assim, os maiores desafios do nosso conselho são: 1) manter nossos próprios conselheiros sempre motivados a lutarem pela nossa profissão e 2) agir proativamente para diminuir a evasão. Mais estatísticos no mercado de trabalho é bom para todos.

 

CONRE-4 (Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul) / Gabriel Afonso Marchesi Lopes

“No Sul enfrentamos o sombreamento de áreas de atuação com a estatística (ciência de dados, inteligência de negócios, análise de mercado, entre outros), muitas sem o mesmo reconhecimento profissional que o estatístico e sem obrigatoriedade de registro profissional, o que gera competição e atrito. Como resultados temos desvalorização do profissional em razão de concorrência baseada em preço.

Nesse sentido, saem perdendo tanto os profissionais, cuja remuneração fica aquém do que se espera para aqueles que têm uma formação tão completa e ímpar como a nossa, quanto os contratantes, que objetivando uma economia na folha de pagamentos, acabam empregando pessoas desqualificadas que se apresentam com nomenclaturas da moda para ocupar o espaço dos Estatísticos, muitas vezes com conhecimento frágil e que não vão além de apertar botões de acordo com ‘receitas de bolo’”.

Já nosso principal desafio enquanto Conselho de Fiscalização é resguardar os interesses da sociedade em relação aos trabalhos desenvolvidos pelos profissionais e empresas que atuam no campo da estatística sem o devido reconhecimento e o amparo dos demais entes públicos.

Infelizmente, cada vez mais vemos nossos tribunais superiores atuando de forma politiqueira em detrimento do necessário viés técnico que estes órgãos deveriam ter. Isso afeta de sobremaneira a atuação dos CONREs no que tange à fiscalização, que é a principal razão de existirmos, pois reiteradamente nossas manifestações são desconsideradas ou até mesmo ignoradas por Ministros, Desembargadores, Juízes, Promotores e Procuradores.

Não há como exercermos o poder de polícia de forma efetiva se a outra ponta não leva em consideração todo o arcabouço técnico de nossas estruturas de fiscalização, o que contrasta com o que se vê em outras profissões de maior status social, onde muito dificilmente encontramos uma decisão judicial que desconsidere, por exemplo, a posição dos CRMs quanto a atuação profissional na área da medicina ou dos CREAs em relação aos engenheiros.

Enquanto não formos respeitados pelos demais entes públicos como detentores do conhecimento no campo da estatística, nossas funções na condição de órgão de fiscalização serão prejudicadas.

 

CONRE-5 (Bahia, Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe) Presidente Hildete Alves da Costa

No Nordeste, o desafio é o piso salarial. Por ser uma região pobre, nosso piso ainda é aquém, por isso, muitos migram para outras regiões, embora nossas universidades sejam muito boas. Eu tenho um exemplo recente de um Estatístico do estado do Piauí que passou em primeiro lugar em um concurso no estado do Goiás.

 

 

CONRE-6 (Minas Gerais e Espírito Santo) / Presidente Edmilson Antonio Pereira Junior

Os desafios do CONRE-6 para contribuir para o fortalecimento da Estatística e fiscalizar a profissão são grandes. Existem muitas atividades realizadas e planejadas internamente e no âmbito do Sistema CONFE/CONRE’s. Porém, é necessário destacar alguns desafios prévios para aprimorarmos a nossa atuação.

Primeiro: precisamos fazer com que mais profissionais se registrem no Conselho. Embora a lei estabeleça a obrigatoriedade do registro, isso nem sempre ocorre. Segundo: precisamos fazer o Conselho ser reconhecido entre os próprios profissionais registrados. É necessário conscientizá-los da importância de sermos regulamentados e de que a nossa Profissão pode se beneficiar de nossas ações. Terceiro: é necessário o envolvimento de todos no Conselho.

 

TENDÊNCIAS – O QUE ESPERAR DO FUTURO DA PROFISSÃO?

 

CONRE-1 (Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins) Presidente Maircon Batista Ribeiro

Estatística, hoje, é ciência que determina o caminho das principais decisões estratégicas do mundo acadêmico e corporativo. Com o avanço tecnológico, ampliam-se as possibilidades de realização de métodos e técnicas estatísticas e expande-se a capacidade analítica. O mundo percebeu que se tem uma grande quantidade de dados e que dentro deles há informação e a possibilidade de desenvolvimento de novos conhecimentos. A estatística é o método que irá estruturar, organizar e gerar tal aprendizado. Assim, o diferencial do profissional da estatística será o desenvolvimento da capacidade em organizar os dados, a evolução analítica e a estruturação de pensamento lógico. Pois, com esses atributos, o novo profissional consegue organizar os dados, aplicar o método/técnica correta e retirar o conhecimento da massa de informações.  

 

CONRE-2 (Rio de Janeiro) / Presidente Elisabete Borges Gonçalves

Pode-se esperar melhoras se houver investimento na publicidade da Profissão, na legislação, nas denúncias, na discussão pública dos erros cometidos. Grande erro cometido no Rio: não terem considerado os dados das marés ao construir a ciclovia Tim Maia. Muito provavelmente um estatístico, que tem visão sistêmica, consideraria a inclusão de dados sobre isso. Essa visão do estatístico é pouco explorada, trata-se de um profissional generalista com grande poder de adaptação a diversas áreas de trabalho e grande facilidade de absorção de novos conhecimentos específicos.  Um generalista e especialista ao mesmo tempo, característica rara. Ainda, poucos países têm graduação em Estatística, que forma um profissional completo, extremamente valioso e pouco conhecido, quando temos nele uma riqueza do Brasil quase única e pouco explorada.   

 

CONRE-3 (São Paulo) / Presidente Doris Satie Fontes

Nosso futuro como profissional eficiente dependerá de como os novos profissionais sairão dos cursos para o mercado. Sabemos que no mundo real as demandas são diferentes dos exercícios acadêmicos. O ideal seria que, já dentro da academia, houvesse mais oportunidades para que os alunos já praticassem o uso de grandes bancos de dados (desde coleta e limpeza até modelagem), mas, caso não seja possível, que, pelo menos, indique trilhas de aprendizado autônomo dando dicas de cursos, workshops e seminários em temas complementares como programação mais avançada ou técnicas estatísticas pouco exploradas na universidade.

Além disso, é muito importante que o estudante se esforce para se comunicar bem. Ser estatístico não é saber somente técnicas estatísticas. A estatística, por si só, não existe no mercado de trabalho. É necessário entender o negócio da empresa para poder ser eficiente na busca de soluções. Depois, é necessário saber comunicar sua solução técnica de forma compreensível e útil.

 

CONRE-4 (Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina) / Presidente Gabriel Afonso Marchesi Lopes

O mercado vem buscando cada vez mais o profissional completo, que saiba lidar com situações complexas. Então, um fator importante é desenvolver as soft skills paralelamente às hard skills. O avanço tecnológico é um trampolim para a área do estatístico, levando-o à voos altos.

Não é necessário ter medo desse avanço. Basta tomar o controle da sua jornada profissional e ao invés de deixar que um processo automatizado substitua o seu trabalho, você se torne aquele que automatiza os processos, que vê onde essas tecnologias novas podem ser empregadas. Hoje, mais do que nunca, é sendo humanos (e não meros repetidores de tarefas) que nos manteremos essenciais e indispensáveis no trabalho.

 

CONRE-5 (Bahia, Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe) Presidente Hildete Alves da Costa

O avanço tecnológico será mais um desafio para nós e com certeza ele chegou em um bom momento. Novos conhecimentos só vão engrandecer nossa profissão.

 

CONRE-6 (Minas Gerais e Espírito Santo) Edmilson Antonio Pereira Junior

O futuro da profissão permanece cada vez mais promissor. O avanço tecnológico e o aumento das formas de atuação abrem espaço para que os estatísticos assumam papel de liderança na condução desses trabalhos. E os estatísticos estão cada vez mais cientes de que precisam ter conhecimentos que extrapolam a teoria das probabilidades e o uso das técnicas estatísticas.

Até mesmo na esfera governamental, o avanço das políticas públicas fica cada vez mais dependente dos dados e das análises nos diferentes setores. Tornou-se indispensável que os órgãos públicos façam a coleta e o gerenciamento dos dados e apresentem os resultados aos públicos interno e externo. E o Estatístico é o profissional indispensável nessa estrutura.

 

Conselho Federal de Estatística – CONFE / Presidente Maurício Gama

O advento das novas tecnologias trouxe uma transformação no conjunto de conhecimentos que um estatístico deve possuir e conhecer. Hoje ele é obrigado a dominar estas técnicas e saber utilizá-las juntamente com os assuntos tradicionais de sua profissão. Além disso, o próprio crescimento da Estatística com o surgimento de novas técnicas e métodos exige um aperfeiçoamento constante desse profissional. Em suma o Estatístico tem, forçosamente, que ser um cientista. De fato, a crescente incorporação de novos conhecimentos levará inevitavelmente à transformação do profissional da estatística em um novo profissional. Este é um fato que já vem ocorrendo. Hoje temos híbridos de estatísticos com analistas de TI já sendo formados nas universidades.

 

 

EVENTO DO CONFE E CONREs

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Dia do Estatístico: Presidentes do Sistema CONFE/CONRE falam sobre alegrias e desafios da profissão