Tathiane Maistro Malta, Patricia Takako Endo, Grazielle Sales Teodoro, Fernanda Selingardi Matias, Daiane Aparecida Zuanetti, Gisely Cardoso de Melo, Giovana Anceski Bataglion — Foto: Divulgação/L’oreal Brasil

 

A premiação “Para Mulheres Na Ciência”, da L’Oreal Brasil, em parceria com a UNESCO e Academia Brasileira de Ciência, está em sua 17ª edição e apoia as pesquisas acadêmicas feitas por mulheres. Neste ano, selecionou sete cientistas brasileiras que lideram projetos nas áreas de Física, Química, Matemática e Ciências da Vida.

Este ano, os prêmios foram dados à Patrícia Takako Endo, Tathiane Maistro Malta, Gisely Cardoso de Melo, Grazielle Sales Teodoro, Giovana Anceski Bataglion, Fernanda Selingardi Matias e Daiane Aparecida Zuanetti, cada uma contemplada com uma bolsa-auxílio de R$ 50 mil para o prosseguimento de seus estudos.

Entre as cientistas está Daiane Aparecida Zuanetti, docente na área de probabilidade e estatística da UFSCar, vencedora na categoria de Matemática.

Nascida em Porto Ferreira, cidade que fica a 50 km de São Carlos, Daiane possui bacharelado, mestrado e doutorado em Estatística pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), com um período de estudos no Texas, Estados Unidos, pelo doutorado sanduíche. A docência chegou depois da experiência de sete anos em instituições financeiras trabalhando com modelagem de crédito e cobrança.

Seu projeto propõe métodos estatísticos para descrever tendências e fazer previsões a partir de dados genéticos, como a análise de sequências de RNA de células únicas. Os métodos podem colaborar em pesquisas de saúde humana e animal. Pode auxiliar também na agricultura, facilitando, por exemplo, um melhoramento genético das plantas para cultivo.

“O projeto é voltado ao estudo das metodologias de agrupamento, de identificação de padrões parecidos ou diferentes para dados genéticos. Visa a trabalhar em nível mais microscópio, na informação de célula a célula sem necessariamente trabalhar com dados agregados”, explica a professora.

O início de tudo, segundo Daiane, aconteceu na graduação, com projetos de extensão e iniciação científica na área de genética por um convite de seu orientador. A partir daí, não parou mais, e os estudos tiveram continuidade nos programas de mestrado e doutorado.

A docente faz parte de um grupo diferenciado, onde poucas mulheres são vistas liderando projetos ou em cursos de graduação, tanto na área da ciência, quanto na área de Estatística. Para ela, o problema acontece devido a fatores sociais e culturais.

“Em nossa sociedade, a mulher é vista como cuidadora da casa, da família e até mesmo dos próprios pais idosos. Mesmo que tenha funcionários, é ela quem gerencia. Assim, por esses compromissos, muitas desistem da profissão para se dedicarem à família. Outro fator está ligado aos valores de que para ser cientista é preciso ser uma pessoa com capacidade intelectual acima da média. Não é à toa que a figura do cientista está ligada à figura do gênio. E culturalmente essa habilidade não é atribuída às mulheres. A mulher é vista como afetuosa, carinhosa, cuidadora e não como um individuo com capacidade de lógica acima da média. Vejo que as meninas não são proibidas, mas desestimuladas a serem cientistas e as mulheres acabam se vendo nesta posição. É por isso também que vemos predominância de mulheres em cargos como cuidadora, educadora ou na área da saúde. E as poucas que chegam ao campo de cientista não são reconhecidas justamente por serem mulheres, já que a sociedade não reconhece a capacidade da mulher como cientista”, afirma.

Neste sentido, questionada sobre suas inspirações que a fizeram estar neste grupo, Daiane cita a mãe e as cientistas que conheceu durante sua trajetória.

“Minha mãe sempre me motivou a estudar. Ela sempre acreditou que o estudo, para as mulheres, poderia ser libertador nos aspectos financeiro, cultural e de vários valores que a sociedade nos impõe e que vem sendo propagados pelas gerações. Ao chegar à faculdade, comecei a ter contato com cientistas que eram minhas professoras. Participei de congressos na área e admirava as apresentações das mulheres cientistas e brasileiras dentro da área da Estatística”, diz.

Para ela, a premiação é de ajuda para inspirar outras mulheres, mostrar possibilidades e o seu valor na ciência.

“A divulgação do prêmio mostra às mulheres que elas também são capazes, bem como mostra à sociedade que as mulheres têm competências e habilidades para a ciência. Assim como ver mulheres cientistas serviu para minha motivação, a premiação deve inspirar as próximas gerações. Além disso, entre tantas formações possíveis, uma é da estatística e isso mostra o crescimento e a valorização da área”, revela.

Vale lembrar que esse é o segundo ano que uma mulher da área de estatística é premiada. Em 2021, a Professora Fernanda de Bastiani, do Departamento de Estatística da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), esteve entre as agraciadas. A docente concentrou parte de suas pesquisas de matemática e estatística em torno da emergência de saúde pública enfrentada pelo mundo e, em particular, pelo seu estado. Seu objetivo é ajudar na compreensão da variabilidade espacial da Covid-19 em Pernambuco, observando em cada localidade o número de casos, número de mortes, taxa de incidência e outras variáveis.

O conselho que a professora Daiane deixa para quem deseja ser cientista é não desanimar, mesmo diante dos desafios enfrentados no Brasil para essa carreira. “Falta incentivo financeiro no país e a nossa sociedade ainda não reconhece o cientista pesquisador como uma profissão necessária e importante. Assim, principalmente às mulheres: é preciso acreditar que você é capaz.  Confie e faça o seu papel. Apesar de poucos exemplos na área da ciência, é possível. Não se intimide por ser minoria ou receber críticas. Com coragem é possível conquistar seu espaço”, finaliza.

 

Link para o twitter do @mulhernaciencia:
https://twitter.com/i/status/1595160195432333313

Daiane Zuanetti, professora da área de Estatística da UFSCar, é uma das premiadas em iniciativa que promove a igualdade de gênero na ciência