Dicas simples auxiliam na apresentação e interpretação de dados

Estatísticos conhecem bem os gráficos. Eles são recursos visuais que servem para facilitar a leitura e compreensão das informações e divulgação de resultados. Gráficos podem ser usados com diferentes propósitos: exploração, descoberta, interpretação, diagnóstico, comunicação, apresentação, destaque.

Na história, é preciso lembrar dos gráficos de Florence Nightingale, uma enfermeira inglesa que atuava no auxílio a soldados durante a Guerra da Crimeia. O conflito entre a Rússia e uma coligação entre Inglaterra, França e Império Otomano aconteceu entre 1853 e 1856.

Durante este período, Florence percebeu que a maioria dos soldados não morriam em combate, mas nos leitos dos hospitais – eram 10 vezes mais mortes causadas por tifo, cólera e disenteria do que por ferimentos de batalha.

A partir dessa percepção, a enfermeira resolveu usar estatísticas para traçar um retrato da situação. Seus gráficos foram tão criativos que passaram a ser um marco do desenvolvimento da Estatística. Foi a primeira vez que fatalidades militares eram exibidas com números.

Conhecido como o diagrama da rosa, o relatório de Florence Nightingale é um gráfico revolucionário para a época, que continha análises gráficas muito elaboradas, incluindo o uso de cores. Florence dizia que o diagrama deveria atingir os olhos, coisa que centenas de números e palavras não seriam capazes de fazer.

De fato, o diagrama da rosa gerou uma impressão instantânea e conseguiu transmitir a mensagem que almejava. A partir daí, o governo inglês modificou as condições sanitárias dos hospitais militares. Como resultado, as decisões baseadas em dados proporcionaram a redução de mortes dos soldados de 42% para 2,2%.

Atualmente os gráficos são populares e muito utilizados. Os mais conhecidos são: pizza, barras, histograma, linha, barras, dispersão e boxplot. “Como uma alternativa, principalmente para os gráficos de barras, existem os pictogramas, que são os gráficos que colocam representações para ilustrar uma quantidade, por exemplo, para mostrar o número de tratores vendidos por regiões, ao invés das barras, colocar tratorzinhos, que representam uma determinada escala, ou seja, se temos 2000 tratores vendidas na região A e 5000 na região B, poderia ser colocado 2 tratores na coluna A e 5 na coluna B. Observe que o efeito é o mesmo de um gráfico de colunas simples, mas algumas pessoas podem gostar pois foge do tradicional. O grande problema nesta situação é que alguns exageram e esquecem da informação a ser transmitida e destaca somente a beleza da figura. O importante é sempre ver qual a característica da variável a ser demonstrada”, ressalta o Professor Mario Tarumoto, Professor e Coordenador de Certificação e Gestão Acadêmica do Núcleo de Educação a Distância da Unesp Presidente Prudente (NEaD/Unesp).

É importante lembrar que é preciso atenção na hora de elaborar um gráfico. Quando mal utilizados, podem gerar problemas como não conseguir passar a mensagem desejada ou criar uma interpretação errada. E hoje, os gráficos se tornaram uma parte mais habitual da vida pública. Eles são utilizados, por exemplo, para apresentar o monitoramento de casos e mortes por COVID-19, números de desemprego ou resultados de pesquisas eleitorais. Infelizmente, alguns aumentaram a confusão, o conflito e a desconfiança.

Opinião de quem entende

É preciso atenção ao fazer e analisar gráficos. Somos levados a interpretar mal os dados quando eles deixam de respeitar padrões, como escalas inapropriadas, legendas não explicitadas corretamente ou omissão de informações importantes. Pegamos alguns modelos divulgados pela imprensa e artigos científicos do que não fazer e pedimos as explicações dos Professores Mario Tarumoto e a Jedi em Analytics Adriana Silva, Estatística e diretora da ASN.Rocks.

GRÁFICO 1

Prof.ª Adriana – Isso até mostro em aula. Como o 5,9 é maior que 6,5?

Prof. Mario – Ou foi erro ou a pessoa que fez o gráfico quer mostrar que as coisas estão piorando, pois temos um grave erro de escala entre os anos. Aqui por exemplo, um gráfico de linha poderia representar muito bem estes dados. Outro ponto: não está explicado por que temos uma linha representando o 4,5%. Talvez seja a meta.

 

GRÁFICO 2

Prof.ª Adriana – O que a gente conclui disso? Nada, certo?!!? Falta dizer quem são as barras. Esse está 3D, mas pelo menos tem os números em cima. Mas veja que a escala (muito provavelmente por ser 3D) está completamente fora. Todas as barras (que não sabemos do que se trata) estão acima do 120 pelos valores do eixo Y.

Prof. Mario – Não sabemos o que representa cada coluna, o que prejudica a interpretação do resultado.

 

GRÁFICO 3

Prof.ª Adriana – Eu não consegui entender esse gráfico. No eixo X eu entendo que deve ser algum percentual de crescimento econômico, mas não sei se isso é por cidade. No eixo Y tem o % de países e dentro está escrito Brasil. Ficou bem confuso.

Prof. Mario – Parece que houve uma tentativa de representar uma distribuição de probabilidade (área amarela), mas me parece que não faz sentido.

 

GRÁFICO 4

Prof. Mario – Parece novamente um problema de escala, pois 75% seriam ¾ da área e neste caso 71,6% está ocupando mais de ¾ da área total. Mas o principal problema aqui é que a soma dos percentuais é maior que 100%. A soma é de 115,9%

 

Dicas – Evite gráficos em 3D ou em pizza

Os especialistas ensinam que menos é mais. “O melhor gráfico é aquele que consegue transmitir os resultados que, em geral, são os mais simples”, ensina o Prof. Mario.

O 3D pode dar até aquele efeito bonito, mas não é recomendado. Um gráfico serve para visualmente encontrar e exibir padrões e diferenças. Essa terceira dimensão de profundidade no gráfico não ajuda. De longe pode até ficar legal, mas de perto é ruim. O 3D beneficia as partes da pizza de baixo em detrimento da parte de cima e dá uma impressão que são maiores.

“O 3D confunde os olhos do telespectador porque distorce os números, tornando difícil interpretá-los ou compará-los e não deve ser utilizado. que o gráfico de pizza e barras tem a mesma missão, então é melhor usar o de barras e sem ser 3D, porque o de pizza pode confundir o telespectador”, explica a Professora Adriana. Ela dá um exemplo do livro Storytellying com Dados.

 

Como fazer um bom gráfico? Barras, histograma, linha…

Prof. Mario – Para a apresentação de um gráfico, acredito que o principal padrão está em utilizar escalas corretas para não distorcer os resultados e que seja o mais limpo possível, além de informar o que representa cada um dos eixos com as devidas unidades de medida. É preciso respeitar a característica da variável que se quer demonstrar. Por exemplo, se a variável é de natureza contínua, como o tempo, o ideal seria fazer o gráfico que interliga os pontos, ou se a variável é de natureza discreta ou nominal, gráficos de barras poderiam ser utilizada.

Prof.ª Adriana – Todo gráfico deve ser apresentado com legendas e cores, quando necessário. Importante ver se as escalas estão justas e se a mensagem principal está sendo passada de forma clara e objetiva. Para saber qual gráfico usar, pense em três pontos: entenda seu problema, seu tipo de variável e sua missão ao mostrar o gráfico”, alerta a Prof.ª Adriana.

 

Outras dicas de bom senso:

  • Identifique os elementos do gráfico: título, nomes dos eixos, legendas bem colocadas e esclarecedoras, dados claros e coerentes, origem dos dados.
  • Evite cherry-picking, ou seja, não suprima parte da escala na tentativa de enfatizar diferenças pequenas.
  • Quando possível, utilize cores que sejam apropriadas para todos os tipos de leitores; pessoas com daltonismo, por exemplo, têm dificuldades para distinguir certas cores.

 

Para saber mais

Dica da Doris, Presidente do CONRE-3: Livro Como mentir com Estatística, de Darrell Huff. Editora Intrínseca

Dicas da Prof.ª Dri – Indico a história da Florence Nightingale. O vídeo apresenta bem a missão de um gráfico: https://www.youtube.com/watch?time_continue=1306&v=Ik6X2-DCudU&feature=emb_logo

Livro Storytelling com Dados, de Cole Nussbaumer Knaflic, Editora Alta Books

 

 

 

Gráficos: você sabe como utilizá-los e interpretá-los?