A Estatística está em todo lugar

 

Estatístico e Consultor, Paulo Alcocer explica como a estatística contribui com outras ciências e pode ser fundamental na tomada de decisões

 

alcocerEstatístico é o profissional que apresenta dados reveladores a partir da coleta e interpretação de dados. A estatística é ferramenta indispensável em todas as ciências, sejam elas exatas, humanas ou de saúde. Na era do conhecimento e da competitividade, o desafio deixou de ser simplesmente armazenar dados, mas sim, dar sentido a eles.

E quem domina o conhecimento estatístico pode aplicá-lo e garantir excelentes resultados em outras áreas. Foi o que aconteceu com Paulo Alcocer. Atualmente, ele é Consultor de Projetos em TI. Tem uma microempresa e, com a ajuda da estatística, auxilia ONGs em suas dificuldades tecnológicas.

Fez mestrado e doutorado em engenharia. Lá, incluiu, em suas pesquisas, os elementos de incerteza e probabilidades.

Na área social, liderou um grupo de estatísticos e econometristas na ONU em um projeto que trabalhou indicadores, índices e pesquisas estratificadas.

O uso da estatística pode ser importante aliada no alcance de resultados. Para Alcocer, “ter uma base estatística faz com que os olhos abram para uma realidade metafisica, ou seja, vai além do que os pesquisadores de campo, sociólogos e cientistas políticos colhem no dia a dia em suas funções”.

Nesta entrevista, conheça um pouco mais sobre a trajetória deste profissional que serve de inspiração a estudantes e demais questionadores e zelosos pela transformação.

 

Como você escolheu o bacharelado em estatística?

Escolhi o Bacharelado em Estatística na Unicamp em sintonia com minha vocação para os números. Em minha lista de prioridades estavam Matemática, Estatística e Física. Então dá para perceber que eu não seria biólogo ou dentista, por exemplo. Fiz colégio Técnico em Eletrônica na Escola São José (ETEC, na época) onde os cálculos avançados já eram parte das matérias. As equações me fascinavam e ainda tem aquela incógnita dos elétrons – onde estão, como funcionam? Sempre me diziam que isso era um estudo de probabilidade. Eu só liguei os pontos naquele momento da vida, e fiz minha escolha. 

 

Você trabalhou na ONU. Em que tipo de trabalho utilizou seus conhecimentos estatísticos?

Não somente na ONU, que é mais recente, mas também em outras empresas nacionais e multinacionais que trabalhei. Por exemplo, na IBM e HP sempre gostei de utilizar os cálculos descritivos tais como média, mediana e desvios. Naquelas empresas, todas as planilhas analisam os dados de forma descritiva para gerenciar um projeto. No IBTA cheguei a ministrar aulas de Estatística, em Campinas. Na Unimed foi o uso intenso de estatística que permitiu idealizar um processo de cálculo mais preciso do valor dos planos de saúde e suas inúmeras variações. Na ONU, o projeto em El Salvador era muito voltado para a área social, como indicadores, índices e pesquisas estratificadas. Liderei um grupo de estatísticos e econometristas para elaborar uma metodologia usando séries temporais e o modelo ARIMA, cuja finalidade era a predição de valores de indicadores nos próximos meses.  

Quanto tempo durou?

Fui selecionado para participar de uma missão em El Salvador como Especialista em TI – uma vez que depois da Estatística fiz cursos de Engenharias e pós-graduação em Gestão de Projetos em TI. A missão durou 1 ano e a área geográfica era o triângulo centro-americano – Honduras, Guatemala e El Salvador.

Quais frutos colheu dessa jornada?

Foi uma experiência que desejo a todos os jovens e não jovens, pois, além do aspecto humanitário e de levar os valores da ONU para projetos tão importantes, traz uma reflexão de contribuição ao mundo. Veja, estamos falando de três países dominados pela violência. Estão no topo da lista dos países mais violentos que não estão em guerra. Os governos locais têm especialistas e funcionários de variados graus, mas quando a questão é gerar números oficiais, eles não têm um IBGE ou institutos estaduais como o Brasil. Chamam a ONU para auxiliar, por exemplo, na integração de base de dados da Policia Nacional, na criação e treinamento de metodologias, no mapeamento de indicadores georreferenciados para o Ministério de Justiça, ou não análise e ordenação de dados em mapas para a embaixada americana. 

Como os conhecimentos em estatística foram fundamentais para o alcance de seus objetivos nesse trabalho?

Ter uma base estatística faz com que os olhos abram para uma realidade metafisica, ou seja, vai além do que os pesquisadores de campo, sociólogos e cientistas políticos colhem no dia a dia em suas funções. Eles usam o SPSS, PSPP, Stata ou outros pacotes estatísticos como usuários, mecanicamente. Por outro lado, os profissionais em economia, engenharia e estatística já observam os números com mais delicadeza, com o cuidado de sermos precisos e assertivos nas hipóteses e conclusões. No projeto, quando me confrontavam sobre os resultados preliminares de pesquisas, minha mente sempre trabalhava com aquela lógica de que quanto menos dados eu tiver ou mais longa for a previsão, mais instável será o sistema. Portanto, a variância é muito maior. Até que tivesse todos os resultados organizados e estratificados não prosseguia com as conclusões. Isso só para citar uma situação que passei, dentre as inúmeras outras.    

Quais eram suas expectativas quando você se juntou à ONU?

A ONU representa para mim a terceira via mundial. Ela não é governo nem mercado privado. É a organização que tem altos valores morais, humanos e luta por um mundo melhor. Recebe dinheiro de doadores mundiais – EUA, Canadá, Bloco Europeu, Brasil, Ásia – e repassa na forma de projetos e ajuda humanitária. Minha expectativa é de ajudar vários projetos em países que estejam em crises, quebrados, prejudicados por corrupção e por desigualdade. Se minha base de formação estatística, engenharia e tecnologia de informação fizer a diferença, ali estarei. 

Você fez mestrado e doutorado em engenharia. A graduação em estatística foi um diferencial para o desenvolvimento do mestrado e do doutorado, mesmo em outra área?

Sim. Meu mestrado e doutorado não teriam sentido sem as análises estatísticas. Os supervisores sempre reforçam o lado da publicação perfeita, do experimento perfeito. Isso não existe, mas eles admitem que você converse quando incluímos os elementos de incerteza, de probabilidades. Isso é fascinante, pois sabemos que o universo não é absoluto, está em movimento e as leis da física e biologia são rigorosamente mutantes. O que era conhecimento sólido há séculos, hoje já não é bem assim, e amanhã também não será.

Em que área você trabalha atualmente?  Como a graduação em Estatística o auxilia em sua carreira? O que a estatística agrega em seu trabalho hoje?

Hoje sou Consultor de Projetos em TI. Tenho uma microempresa para auxiliar as ONGs em suas dificuldades tecnológicas. Por exemplo, o hardware, software e redes de pequenas organizações são um mundo em miniatura de uma empresa mundial. Mas ali você encontra com pessoas que estão ajudando pessoas. Não vendem nada, apenas se entregam para causas nobres. Estou aguardando minha próxima missão pela ONU, que pode ser outro país das Américas, ou quem sabe África ou Ásia?

Que recado você daria hoje para os jovens estudantes que buscam uma carreira nova ou que ingressaram num bacharelado em estatística?

Eu daria um recado de otimismo. Sempre disse aos meus alunos de graduação que não importa o que você faça, seja bom naquilo que escolheu. O trabalho tem que ser prazeroso, divertido, senão você está no lugar errado. Fazer o curso de estatística vai dar base para que você seja aquela mente que não vai aceitar uma pesquisa, um número ou um processo somente porque alguém mostrou que é assim desde sempre. Fazer perguntas sobre as possíveis causas e efeitos, diferenças e variações, medidas precisas ou imprecisas – isso é o que se espera de uma pessoa formada em estatística. Eu passei por empresas privadas, de saúde e tecnologia, por governo Federal, e agora pela ONU. Em todas, sem dúvida nenhuma, minha base de estudos matemáticos e estatísticos provaram me manter num caminho seguro, com satisfação e diversão.

Entrevista com Paulo Alcocer explica como a estatística contribui com outras ciências