Segundo o Glossário Eleitoral Brasileiro, Pesquisa Eleitoral é a indagação feita ao eleitor, em um determinado momento, sobre a sua opção a respeito dos candidatos que concorrem em uma eleição.

E em ano de eleições, os veículos de comunicação começam a divulgar diversas pesquisas eleitorais. Mas você sabe como são feitas? São confiáveis? Qual o papel do estatístico em uma pesquisa?

Para esclarecer as dúvidas, o CONRE-3 conversa com o Estatístico Neale El-Dash. Ele possui graduação e mestrado em Estatística pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e doutorado em Estatística pela Universidade de São Paulo (USP). Com mais de 15 anos de experiência, é responsável pela Polling Data, empresa na área de amostragem e pesquisas de opinião pública. Entenda como é feita uma pesquisa eleitoral, sua importância e se são, de fato, confiáveis.

Qual a importância das pesquisas eleitorais?

É uma ferramenta importante para saber a opinião pública. A pesquisa eleitoral permite que um candidato possa avaliar quantas pessoas concordam com a plataforma de governo que ele propõe. É uma forma de ajudar o candidato a saber o que o povo enxerga como importante. Do outro lado, ajuda o eleitor na decisão do voto. Mas também tem aspecto negativo: se elas são fraudadas, podem alterar o resultado da eleição. São parte importante da democracia, mas precisam ser feitas com cuidado.

 

Qual é a responsabilidade do estatístico ao trabalhar com pesquisas eleitorais?

É uma das partes fundamentais para viabilizar a execução das pesquisas eleitorais. O profissional vai atuar em planejamento (quais pessoas deveriam ser entrevistadas) e na análise (ponderação dos resultados como forma de reduzir a variância e eliminar vieses). O papel dele garante a qualidade das pesquisas. Mas não trabalha sozinho. Segue ao lado de cientistas sociais, políticos e pessoal de campo. Acredito que o estatístico poderia ser mais atuante ao facilitar a compreensão das pesquisas para a população em geral, pois o lugar acaba sendo ocupado pelos cientistas sociais. Por mais que sejam experientes, não dominam alguns aspectos teóricos e metodológicos. Neste ponto, os estatísticos poderiam ter uma voz mais relevante.

 

Você tem postagens no seu site, o Polling Data, para falar de amostragem, viés e margem de erro de forma clara para quem não é estatístico. Por que é importante abordar esses temas?

A compreensão da opinião pública vem das pesquisas de opinião. Então, amostragem, viés, variância, margem de erro são termos importantes para entender a qualidade delas. Se esses assuntos forem melhor compreendidos pela população, vão permitir que todos tenham uma opinião melhor embasada sobre a qualidade dessas pesquisas e sobre a importância da informação gerada com as pesquisas sobre sua própria vida. Com entendimento será possível exercer a cidadania de forma mais adequada reconhecendo, por exemplo, fake news e pesquisas sem qualidade. O escritor H.G Wells já disse que “um dia, o pensamento estatístico será tão importante para o pleno exercício da cidadania quanto ler e escrever”. Eu acho que estamos neste tempo, com tantas informações sendo gerada por pesquisas.

 

Você é o responsável pelo Polling Data. Como surgiu a ideia da empresa e de escrever textos importantes a quem não é Estatístico?

Terminei meu doutorado na USP,  já trabalhava com pesquisa eleitoral e fui para os Estados Unidos. Os sites agregadores de pesquisa de lá chamaram a minha atenção pela relevância em apresentar a opinião pública olhando várias pesquisas e não apenas pesquisas individuais. Quando voltei ao Brasil, decidi trabalhar dessa forma. Quanto aos posts, percebi que algumas questões sobre estatística eram debatidas de forma superficial no país e com viés político (como o desmatamento da Amazônia). Percebi que poderiam ser respondidas por estatísticos e de forma imparcial.

 

Você trabalha com a união de dados de diferentes pesquisas em uma única análise. Quais são os principais cuidados que você toma para manter a qualidade de seus resultados?

Procuro pegar o máximo possível de pesquisas disponíveis para estar mais próximo da realidade. Também me preocupo com a limpeza dos dados e com a relevância dos institutos que realizam as pesquisas.

 

Como são realizadas as pesquisas eleitorais fora do Brasil? São diferentes das realizadas aqui? Quais são as principais diferenças? Essas diferenças são positivas ou negativas?

Já fiz pesquisa em vários lugares, mas vou falar dos Estados Unidos. Há 30, 40 anos, não existe pesquisa presencial, apenas por telefone. Diferente do Brasil, que só em 2018 a pesquisa presencial começa a dar lugar às telefônicas. É uma diferença interessante.

Hoje em dia, acredito que o melhor modo seja por telefone: pelo acesso rápido, de baixo custo e mais fácil (muitas pessoas possuem telefone e não há problemas com as barreiras de entrada em condomínios).

Além disso, na pesquisa presencial são feitas amostragens por conglomerado. As pesquisas são agrupadas em quarteirões. Isso faz com que se reduza a precisão. O ponto negativo da pesquisa por telefone é que o questionário precisa ser menor pelo tempo que as pessoas conseguem ter atenção ao responderem. E para o futuro, provavelmente teremos mais pesquisas on-line, com mais possibilidades de interação com os respondentes.

 

Para saber mais:

CONRE-3 – www.conre3.org.br/portal/pesquisa-eleitoral/

Polling Data: www.pollingdata.com.br/

Como avaliar as pesquisas de opinião pública no Brasil? Clique aqui

 

Legislação para pesquisas eleitorais – Quem deseja realizar uma pesquisa eleitoral precisa seguir algumas regras. As entidades e empresas, para conhecimento público, são obrigadas, para cada pesquisa, a registrar, junto à Justiça Eleitoral, até cinco dias antes da divulgação, as informações indicadas no art. 33 da Lei nº 9.504/97. Esse registro deve conter, entre as informações, sobre quem contratou a pesquisa, o valor e a origem dos recursos necessários, a metodologia utilizada e o período de realização. Esta obrigação é exigida a partir de 1º de janeiro do ano das eleições (art. 1º, da Res.-TSE nº 22.623, de 8.11.2007).

Além disso, toda empresa que vai registrar uma PESQUISA ELEITORAL precisa de um ESTATÍSTICO com registro em dia no CONRE de sua região. Obedecendo a Lei 6.839/1980, toda empresa que atua no ramo da Estatística (por exemplo, CNAE 7320-3-00 – Pesquisas de mercado e de opinião pública, CNAE 7490-1/99 Consultoria em estatística/Serviço de/Consultoria na área de estatística; entre outros) devem possuir um REGISTRO PRINCIPAL REGULAR no seu CONRE de origem (onde possui a sede), e manter REGISTROS SECUNDÁRIOS nos demais CONREs que atuam dos demais Estados onde deseja atuar (registro “em razão da atividade básica ou em relação àquela pela qual prestem serviços a terceiros“).

 

 

 

 

 

O Estatístico e as Pesquisas Eleitorais